
Joaquim Melo, um dos proprietários da banca, é historiador por formação. Isso explica sua disposição para papear com clientes e contar, sem pressa, que os primeiros registros conhecidos sobre o tacacá datam do século XVIII. Segundo ele, as menções ao famoso caldo já apareceram nos escritos do padre João Daniel, que fez uma expedição pela Amazônia na época, e nos apontamentos do pesquisador português Alexandre Rodrigues Ferreira, em uma valiosa compilação sobre os costumes dos habitantes da região no fim de 1780. Em ambas as referências, a receita é descrita com quase todos os ingredientes presentes na versão atual, como o tucupi, a goma e o jambu - com exceção do camarão seco, hoje um item importantíssimo na fórmula e comumente substituído por carne-seca ou peixe em algumas cidades do interior. Instalado na praça em frente ao imponente Teatro Amazonas, a premiada barraca vende diariamente cerca de 300 cuias de tacacá, adornadas com um cestinho de vime. Um casarão a poucos metros dali abriga a produção, que envolve cozinhar a mandioca-brava por no mínimo sete horas e temperar o tucupi com alho, cebola, pimenta-murupi e chicória. O local também armazena o camarão, trazido do Maranhão em remessas semanais de 100 quilos. Às quartas-feiras, o ponto de venda recebe apresentações de músicos no fim de tarde - quando a temperatura começa a amenizar, torna-se ainda mais agradável o consumo do líquido aromático e de sabor exuberante.
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